Depois de tanto tempo retorno para contar que - como me disse meu priminho de sete anos no domingo – agora sou adulta. Foi uma cena meio cômica acordar perto do meio dia, com os cabelos desgrenhados (e bota desgrenhados nisso), dar de cara com o moleque jogando vídeo game na sala e ouvir isso: Bruna, agora você já é adulta, né?!
O adulta que ele quis dizer, na sua inocência de criança, é que agora eu sou finalmente uma pessoa formada. Me formai, ao contrário do que diziam algumas más línguas. Mais alguns dias e terei até um diploma, pra pesar destas más línguas, que na verdade é uma só. Mas deixando esta má língua de lado, lembro de uma outra coisa má, e que não era apenas uma língua.
Pensem vocês que fui escolhida para ser oradora da turma e que, com todas as atribuições que esta função exigia, lá fui eu escrever meu pequeno discurso (5 minutos no máximo). Me dei ao trabalho de cronometrar meu tempo de leitura e cheguei à conclusão de que era capaz de ler uma página e meia neste tempo. O tamanho do discurso eu já tinha, faltava o recheio. E como foi penoso parir aquela desgraça. Quatro meses desde o fim das aulas, desde que eu me propus a dedicar-me exclusivamente ao parto do meu discurso. Depois que fiquei sabendo que alguns professores depositavam grandes expectativas sobre meu pobre discurso, as dores do parto aumentaram. A formatura estava marcada para o sábado, a entrega do discurso para a quinta feira anterior. Pois eis que na madrugada de terça para quarta acordo com as ideias fazendo a maior algazarra dentro da minha cabeça. Fiz um pequeno esboço.
Quarta-feira fui atrás de algumas coisas que faltavam ser resolvidas, e o esboço do meu discurso lá... E as ideias que me haviam perturbado durante a noite haviam sumido. Quinta feira pela manhã eis que elas resolvem retornar. Consegui terminar o parto do meu discurso. Duas páginas, mais ou menos sete minutos. Estava perfeito. Não aqueeeeeela maravilha, mas pra algo parido na ultima hora, estava perfeito.
Na manhã seguinte, o telefone toca e ao atender, a pessoa do outro lado se identifica como sendo da universidade. Dizia ele que meu discurso havia sido classificado como agressivo em demasia, e que algumas partes teriam que ser omitidas, para não ferir a imagem da universidade... Em outras palavras: FUI CENSURADA! Quase não consegui acreditar! (tá, confesso que até fiz de propósito só pra ver se eles teriam a capacidade de me censurar. E eles tiveram.) 1001 ideias me passaram pela cabeça, de parir um novo discurso mais agressivo às pressas a fazer 5 minutos de silêncio. Mas na hora de discursar, optei pela forma mais direta de me cobrar. Anunciei a todos a censura e li o discurso censurado mesmo. Dizem os que estavam na plateia que, se pudesse, o vice-reitor me pularia no pescoço. Mas ele não podia. Teve que ficar quieto e ouvir o que eu, uma reles licenciadazinha em História tinha a dizer. Poderia ter feito mais, eu admito. Mas para aqueles que se consideram senhores de tudo e de todos, foi um grande tombo serem acusados de censura... que coisa feia, não... Mas depois de quatro anos vendo, ouvindo e presenciando tantas coisas podres, foi o mínimo que eu poderia ter feito. E me orgulho de ter feito.
No próximo episódio conto mais sobre o dia em que virei adulta... e de como foi divertido